É fácil cair na armadilha de aplicar alguns conceitos e chamar de Kanban. Muitos agilistas já ouviram a barbárie: “não cabe na sprint, vamos fazer um Kanban”, quando a demanda não se aplica num contexto Scrum e a ideia é só jogar as coisas num board sem olhar timebox.
Mas a ideia deste post é justamente mostrar como o proto-Kanban pode ajudar um time ou empresa à chegar no Kanban completo.
Pesquisando alguns conteúdos um pouco mais avançados sobre Kanban, encontrei várias referências ao Proto-Kanban, na maioria das vezes recomendando até “fugir” dele.
Proto, do grego prōto- (de prōtos), é o original, ou em estado inicial. Mas e no contexto de Kanban?
No artigo “Patterns of Kanban Maturity”, David Anderson, criador do método Kanban como usamos hoje em desenvolvimento de software (lembrando que ele se aplica a todo trabalho de conhecimento, não apenas software), mostra vários tipo de boards Kanban que encontrou nos mais de 10 anos em que pratica o método, e como os relaciona com diferentes níveis de maturidade das organizações.
Ao abordar esses diferentes tipos de quadro, ele usa o termo “proto-Kanban” para classificá-los, e nos mostra que tal termo foi cunhado por Richard Tuner, engenheiro de Software, ao notar que muitas implementações de Kanban inicialmente julgadas como parciais acabaram por evoluir em sistemas Kanban completos. O termo Proto-Kanban se aplicaria então à sistemas Kanban incompletos, mas com a intenção de se tornarem Kanbans completos. Sem essa intenção, nas palavras do próprio Anderson, o quadro “é apenas um board numa parede para visualizar algo”.
E na prática, o que é o proto-Kanban?
Não é um Kanban completo (essa parte nós entendemos pelo parágrafo acima), mas ele tem alguns elementos que devem ser levados em consideração:
- Visualização de trabalho em progresso e seu fluxo em um quadro
- Podem existir algumas políticas explícitas e/ou algumas classes de serviço
- Podem estabelecer-se alguns ciclos de feedback
O fato mais importante do proto-Kanban é justamente o que lhe proporciona o nome: a intenção de se tornar um Kanban completo.
Mas como funcionaria o proto-Kanban como ferramenta para implementação do Kanban completo?
O post em espanhol de Nacho Navarro mostra muito bem como aplicar o proto-Kanban como processo de implantação do Kanban.
- Segundo ele, dada a maturidade da equipe ou organização, o time pode avançar por algumas fases: Personal Kanban: Um quadro individual para cada pessoa do time visualizar o trabalho que está fazendoMuitas vezes, o quadro tem colunas pouco definidas, mas isso é ok, é uma primeira ideia, está promovendo visualização do trabalho.
- Personal Kanban Agregado: É um único quadro, mas com uma raia (lane) para cada pessoa
- Team Kanban: finalmente acaba a distinção por pessoa. O foco muda de “quem está fazendo o que” para “o que está sendo feito”
- Introdução de WIP Limit por pessoa: É um começo à gestão de trabalho ao invés de gestão de pessoas
Claro, sempre podem surgir discussões e implementações de tipos de demanda, classes de serviço, políticas explícitas e introdução de ciclos de feedback.
No mesmo post, Navarro enumera algumas das vantagens dessa abordagem:
- Com rápida visualização do trabalho, melhores decisões são tomadas mais cedo
- Fica possível disseminar a cultura de sistema puxado e colher seus benefícios
- Possibilidade de gerar e analisar métricas básicas, como leadtime e throughput
Um problema em tentativas de implementação de Kanban é conseguir deslocar o time de suas atividades para que todos conceitos sejam definidos e implementados. Muitas vezes os responsáveis pelo time vão sentir esse tempo como “perdido”.
Usando o proto-Kanban como método, assume-se que haverá acompanhamento por um tempo bem maior por parte do profissional de implantação de Kanban. Não se pode assumir como um pacote fechado de duração determinada… Mas não reserva tanto tempo do time inicialmente.
É aí que o proto-Kanban pode ser uma solução. Ele aceita que o processo funcione com o Kanban incompleto e vá evoluindo aos poucos. É menos disruptivo. Se pensarmos em kaizen vs kaikaku, o evolucionário vs o revolucionário, o proto-Kanban como processo de transição se encaixa mais no primeiro.
E aí, será que o proto-Kanban não é o empurrão que faltava pra aplicar o Kanban no seu time?